Milton e a Obra Prima
Por Ana Cláudia
Arquiteto e
professor de Literatura no Amazonas e na Califórnia, Milton Hatoum nasceu em
1952, em Manaus, onde desde o berço seu gosto por Literatura permaneceu. Autor
de quatro romances premiados, Dois Irmãos (Companhia das Letras, 2006, 198 págs.)
é sua mais famosa e reconhecida obra entre o grande público.
Pois bem,
trata de uma família enraizada na cidade de Manaus, com fortes e perceptíveis
peculiaridades, que vão desde relações incestuosas à um conflito quase (ou
certamente) armado entre os gêmeos Yaqub e Omar, de personalidades um tanto distintas.
Hatoum, além
de nos mergulhar no cotidiano manauara com uma descrição fenomenal das
paisagens e dos locais da cidade, também nos mergulha em conflitos interiores
humanos, provavelmente presentes e comuns a todos nós. O autor passa também uma
sugestão apimentada, quase como a de Machado de Assis, grande escritor do
século XIX, que está coincidentemente (ou não) entre as preferências literárias
de Milton. É notável seu gosto por mistérios, já que aguça a dedução do leitor
ao longo do livro, onde seus mistérios vão sendo, pouco a pouco, suavemente
revelados.
O diferencial
de Dois Irmãos encontra-se também no tempo da narrativa, que transita entre a
incerteza cronológica, com idas e vindas entre as épocas feitas com maestria e
sem perder o foco principal, além de ter sua maior graça e, descobrir e
entender o desenrolar da história, já que a mesma começa pelo final.
Uma narrativa
adulta, com maturidade que exige certa bagagem literária, mas que impressiona
pelo seu poder de fazer com que o leitor deslize pelas páginas sem sentir
vontade de parar, e pelo poder de intrigar a cada capítulo, por conta de sua
construção. Apenas classificar Dois Irmãos como bom não e suficiente, já que a
lapidação literária é tão rica que em uma obra, o autor consagrou-se e deixou
sua marca no Brasil e no mundo, junto com os grandes clássicos.
O livro é
recheado de suspense, conflitos, ciúme e surpresas, portanto sua leitura é
obrigatória, tanto pela competência de Milton quanto pela beleza e apreciação
da obra final, merecedora de elogios e sorrisos apaixonados.
Leia sem
moderação.
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